Arte, expressão e 40 anos de sucesso

 Por Larissa Rodrigues, Sandra Leão e Tacila Souza


Considerada um dos três corpos artísticos mantido pela Fundação Clóvis Salgado, a Cia. de Dança Palácio das Artes há 40 anos se caracteriza pela constante evolução no tempo. Comemoração dupla no Grande Teatro do Palácio das Artes que também festeja seus 40 anos de sucesso.

Fundada na década de 70 pelo mestre de balé e coreógrafo Carlos Leite a Cia. de Dança do Palácio das Artes (CDPA) dedicou-se, durante 20 anos, a montagens de peças com repertórios eruditos e às operas produzidas pela Fundação Clóvis Salgado. No início da década de 90, incluiu em seu repertório obras de coreógrafos nacionais e internacionais, como: Jean Marrie Dubrull, Suzana Yamauchi, Eleo Pomare, Sônia Mota, Oscar Arraiz, Luiz Arrieta, Tindaro Silvano, Rodrigo Pederneiras, Henrique Rodovalho, Tuca Pinheiro, Mário Nascimento e Sandro Borelli.

Após se tornar uma Cia. sintonizada com as modernas linguagens da dança, a CDPA, sob o comando de Cristina Machado, incentivou e promoveu a pesquisa em dança, através de debates e entrevistas entre bailarinos e profissionais de outras áreas utilizando  nas produções deste período, o potencial criativo de seus próprios bailarinos, que além de performances, instalações e vídeos compuseram também o grande acervo do grupo nos anos 2000: Entre o Céu e as Serras, de Luiz Mendonça e Cristina Machado; Poderia Ser Rosa, de Henrique Rodovalho; Sonho de uma Noite de Verão - fragmentos amorosos, de Gabriel Villela; Coreografia de Cordel, de Tuca Pinheiro; Transtorna, de Cristina Machado; Carne Agonizante, de Sandro Borelli; Quimeras, de Mário Nascimento; 22 Segredos (2009), Segredos Masculinos e Segredos Femininos (2010) e Se eu pudesse entrar na sua vida (2010) com direção artística de Sônia Mota.

Antigo Teatro do Palácio das Artes

Foto panorâmica do Grande Teatro do Palácio das Artes

Nova direção

Em março de 2010 Sônia Mota assume a direção da CDPA.Com a proposta de valorizar a maturidade artística do elenco, utilizando como suporte para suas próximas criações o confronto, o trânsito e o diálogo entre tradição e inovação, as diferenças entre gerações, a multiplicidade e a singularidade de cada um de seus integrantes “Eu fui pra Alemanha em 1989 e lá fiquei. Em 2009, Cristina Machado que era a diretora da Cia, me chamou para coreografar 22 Segredos. Como houve uma empatia muito grande entre o elenco e eu, e como Cristina Machado após 10 anos na direção, queria fazer outra coisa, me convidou para assumir o seu posto” lembra Sônia.

A atual diretora da Cia, não esconde o prazer que esse trabalho a proporciona. “Ser diretora da Cia é poder trocar reflexões de dança com um elenco muito talentoso, é poder voltar a minha terra e devolver a ela tudo que ela já me deu nos anos anteriores a minha ida para Europa” comenta.

Neste ano, Sônia incluiu entre as ações da Cia. o projeto Quintas da Dança, que se configurou como um espaço para expor e experimentar propostas que refletem os diversos caminhos e linhas de pesquisa dos bailarinos da Cia. Outra atividade que conta com a participação do público é a Aula Aberta, ministrada pela Sônia, sempre uma vez ao mês, com entrada franca que funciona da seguinte maneira: no começo de cada mês é colocado o anúncio “Aula Aberta” seguido por um endereço de e-mail. Basta o interessado se inscrever solicitando a participação. Além das aulas abertas, a Cia oferece toda ultima quinta- feira do mês, uma apresentação gratuita no Hall do Palácio. Na apresentação é exibido trechos do repertório e coreografias que se encontram em estudo.

Outro projeto em andamento deste ano de 2010, é o “Zona 04”. Criado para a comemoração dos 40 anos da CDPA foi iniciado com a ocupação performática “Se eu pudesse entrar na sua vida” que a Cia apresenta trechos do seu repertório por todos os espaços do Palácio das Artes. Para Sônia “o público tem uma chance de peregrinar com os bailarinos começando na rua em frente ao Palácio, e se estendendo por suas dependências: hall, foyer, corredores, palco, platéia, escadarias, galerias, para terminar no café do Palácio” explica. 

Ainda neste ano de comemoração, será apresentada a segunda parte do projeto “Zona 04”, que será o espetáculo “Tudo que se torna um”, com estréia prevista para agosto. “Para um futuro próximo, pretendemos fazer uma exposição histórica que será apresentada durante um mês ou dois numa das galerias do Palácio das Artes e o projeto fecha com a publicação de um livro sobre a arte da de dança da CDPA. Fora isso, pretendemos fazer ensaios abertos, debates sobre a arte da dança e criar parcerias com o teatro, cinema e claro viajar pelo interior de Minas, pelo Brasil e no exterior” comenta.

Bailarinos da Companhia

Lina Lapertosa está na Companhia há 31 anos. Ela entrou para a escola de Balé em 1972, foi professora  e em 1980 entrou para a CDPA, que na época  se chamava Corpo de Baile do Palácio das Artes. “Fazer parte da Cia pra mim é um privilégio e um orgulho, porque se trata de um grupo muito comprometido em fazer um trabalho
que fala das questões do homem contemporâneo. Com isso, podemos fazer
provocações e contribuir para possíveis mudanças e alguns entendimentos.”

De acordo com Lina para entrar pra Cia, é preciso fazer um concurso público, já que os bailarinos são funcionários estaduais; além de uma prova prática
de balé, com aula de pontas, pas de deux e repertório. “Hoje em dia, como
a Cia mudou para Cia Contemporânea de dança, além da prova prática  inclui-se uma aula de balé, e outra de dança contemporânea e improvisação.”

Ela nos conta também sobre a rotina dos bailarinos da Cia: “Temos duas aulas de Pilates por semana (geralmente segundas e quintas) e em seguida, uma aula de balé clássico, 15 minutos de intervalo e começam os ensaios, que variam conforme a necessidade. Nas 3ªs e 5ªs feiras temos aula de dança contemporânea ou de improvisação ou de criação e seguem os ensaios.Nas 6ªs temos aulas de yoga ou Aikido e seguimos com os ensaios.
Dependendo do que estamos criando, temos aulas específicas.(por ex:
aulas de máscaras, de clown, de preparação vocal, etc)”

Bailarino desde 2008, Lucas Medeiros, é um dos nomes recentes da Cia, e nos conta como é estar no palco com o grupo: “Chega a ser estranho dividir o palco com "os meus heróis”! A Cia de dança do Palácio das Artes foi a responsável por descortinar a dança na minha vida. O primeiro espetáculo que assisti foi  "Transtorna",pelo qual eu me apaixonei. Desde então acompanho os trabalhos da Cia e os tinha muito distante da minha realidade. Hoje estamos remontando "Coreografia de Cordel" que é uma das obras-primas da Cia e me vejo com dificuldade de conceber que estou participando dessa obra. Essa é uma oportunidade maravilhosa.  Ainda acrescento o fato de que os bailarinos são muito bacanas e receptivos e não me vêem como um bailarino inferior pela minha pouca idade.”

Lucas fez sua primeira audição, em agosto do ano passado, mas o bailarino selecionado foi o Peter Lavratti e ele entrou como estagiário. “Foram cinco meses nessa situação, participando dos processos criativos, das oficinas e dos espetáculos”. Logo depois, em fevereiro, ele foi selecionado.

“A companhia se encontra em uma fase muito boa, estamos em um ano de comemoração. Acredito que o 2º semestre de 2011 e o ano de 2012 prometem!” Finaliza entusiasmado.

Bailarinos da década de 90, da Cia. de Dança do Palácio das Artes

Grande Teatro do Palácio das Artes completa 40 anos

Inaugurado pela Fundação Clóvis Salgado em 13 de março de 71, há quatro décadas, o Grande Teatro do Palácio das Artes oferece aos mineiros atividades e propostas culturais marcadas pela diversidade e acessibilidade. O maior teatro de Minas Gerais, considerado também um dos espaços culturais tecnologicamente mais avançados da América Latina, comemora em 2011 seus 40 anos de existência.

No início do governo de Juscelino Kubitscheck, na década de 40, Oscar Niemayer começou o projeto arquitetônico que resultaria no Teatro. O trabalho, interrompido por aproximadamente 20 anos, continuou na gestão do governador Israel Pinheiro.

Palco de apresentações de grandes companhias de dança, o espaço recebeu o Ballet de Tókio, Bolshoi, Royal Ballet de Londres, Grupo Corpo, entre outros.