sexta-feira, 29 de abril de 2011

Histórias para gente grande

Por Marcos Pereira 
Histórias em quadrinhos deixam de ser um produto voltado para as crianças para ganhar lançamentos específicos para os mais velhos.

Na estante que ocupa uma parede inteira de seu quarto, o estudante de Letras Marcos Matias de Araújo, de 30 anos, guarda sua pequena coleção de quadrinhos, que divide espaço com vários livros. Mesmo assim a quantidade de títulos é de fazer inveja em muitos. Ele possui a maioria das obras do desenhista alemão Ralf König, como Camisinha, Homem Ideal e Assassina; Watchmen; V de Vingança; Toda Mafalda; um Box com os quadrinhos do Garfield; algumas obras do desenhista japonês Suehiro Maruo; a saga da DC Comics 52 Semanas; a edição definitiva de Sandman, e outros. Ao lado da estante, algumas caixas de papelão com mais quadrinhos que esperam ser organizados. “Consegui organizar grande parte da minha coleção de quadrinhos, mas como me mudei a pouco tempo, tem muita coisa encaixotada ainda”, explica Marcos. O estudante também guarda algumas revistas compradas na infância, como edições da Turma da Mônica e quadrinhos da Disney. Mas ele cresceu, amadureceu, e seu gosto por quadrinhos permaneceu.
Foi-se o tempo em que histórias em quadrinhos era coisa de criança. Agora elas migraram das bancas de jornal para as prateleiras de livrarias, dividindo espaço com grandes nomes da literatura. E além das tradicionais revistas periódicas, alguns títulos ganham edições luxuosas, com um trabalho gráfico personalizado e acabamento de qualidade. Tudo para atrair os antigos leitores de quadrinhos, que antes se divertiam com as histórias da Turma da Mônica e hoje envelheceram. Segundo relatório de uma pesquisa da Simba Information, empresa que estuda o mercado editorial dos EUA, divulgado em outubro do ano passado, aproximadamente um entre quatro leitores de HQ no país tem 65 anos ou mais. E esta é a situação do mercado editorial em todo o mundo.
Mas nem sempre os quadrinhos receberam essa importância e tratamento diferenciado, sendo, por muito tempo, considerados um gênero inferior, voltado para crianças. Segundo a educadora e Mestre em História da Literatura Janira Gomes de Oliveira, as histórias em quadrinhos surgiram em meados do século XVI, como forma de transmitir histórias de santos e mártires da igreja cristã, e em nada pareciam com o que temos hoje. “O alvo principal dessas HQs eram leitores que mal sabiam ler ou leitores iniciantes. Durante muito tempo foi apenas essa a utilidade das HQs”, comenta a educadora.
           Porém o cenário mudou e os quadrinhos não são mais vistos apenas como um gênero infantil. Com histórias mais complexas e traços mais elaborados, adultos passam a consumir as revistas sem medo. O estudante de Educação Física e auxiliar de expedição Jessiel Gomes, de 23 anos, compra em média 10 revistas em quadrinhos por mês, entre HQs, os quadrinhos americanos, e mangás, com traço japonês. “Muitos ainda olham torto para o fato de eu colecionar essas revistas, acham que é coisa de criança. Mas as histórias são mais profundas e tratam de temas do mundo dos adultos”, comenta Jessiel. 

            Editoras acompanham mercado
De olho nessa mudança de perfil do consumidor, as editoras de quadrinhos investem em lançamentos voltados para o público adulto. Além das edições periódicas, as séries ganham versões encadernadas, as chamadas graphic novels, que reúnem todos os volumes já lançados. Segundo o coordenador do setor de quadrinhos da Livraria Leitura Savassi Gustavo Siuves, as editoras estão apostando em histórias mais politizadas, com forte crítica social e com uma veia literária maior. “Além das histórias serem cada vez mais críticas e complexas, editoras que antes publicavam apenas livros estão acordando para esse setor, investindo em lançamentos de autores nacionais e estrangeiros”, salienta Gustavo.
E como o novo leitor de quadrinhos não está de olho apenas no conteúdo, mas também na qualidade da publicação, edições de luxo estão cada vez mais presentes nas livrarias. O estudante Marcos Matias dá preferência pelas edições especiais por causa da durabilidade. “Revistas normais podem amassar ou você acabar perdendo. Mas as edições encadernadas têm um acabamento melhor, duram mais. É um investimento de longo prazo”, salienta.
Assim, a arte em quadrinhos vai acompanhando o amadurecimento do leitor, sem abandonar a linguagem simples e a grande capacidade de transmitir mensagens. Há espaço para todos os públicos ainda, desde as crianças até os mais velhos. E pelo visto não há data para que isso mude.


FIQ esperto: Vem aí o maior festival de quadrinhos da América Latina
por Markilma Carter

Realizado a cada dois anos, o FIQ é o maior evento de quadrinhos a América Latina
  
Belo Horizonte sedia o maior evento da América Latina destinado aos apreciadores de quadrinhos. Trata-se do FIQ, Festival Internacional de Quadrinhos, que chega à sua sétima edição em 2011. De 9 a 13 de novembro quem passar pela Serraria Souza Pinto poderá conferir obras de diversos quadrinistas, nacionais e internacionais. Com o objetivo de apresentar um recorte atual da produção de quadrinhos no mundo, o FIQ procura trazer artistas e exposições de estilos e escolas variadas.
A primeira edição do festival surgiu a partir da Primeira Bienal de Quadrinhos, organizada no Rio de Janeiro, em 1991. A terceira Bienal aconteceu em BH, em 1997. Em 1999, deixou de ser uma Bienal para se tornar um Festival, que inicialmente foi marcado por um público aficionado, leitores assíduos de quadrinhos. Nas últimas edições, o número de leitores esporádicos ou que ainda não conheciam os trabalhos cresceu.  “Tem havido uma constância no crescimento do público. Em relação à última edição houve um aumento de em 25%, foram aproximadamente 75 mil visitantes”, conta o coordenador-geral do FIQ, Afonso Andrade. Afonso prevê, ainda, um número expressivo de visitantes para o FIQ 2011. “O twitter do festival (@fiq_bh) tem hoje cerca de 1000 seguidores, o que indica um maior interesse do público pelo evento”. A expansão é fruto de uma maior exposição dos quadrinhos na mídia e do trabalho realizado na Gibiteca Antônio Gobbo, onde são realizadas diversas atividades relacionadas aos quadrinhos.
O evento permite que muitos artistas e interessados pelo meio troquem experiências, além de representar muito para o universo das HQ’s. “O mercado de quadrinhos brasileiros encontra-se em uma fase de franca expansão, com a entrada de diversas editoras no circuito. O mais importante é que a maioria é de editoras que já publicavam outros tipos de livros, ou seja, empresas consolidadas no mercado, que agora investem nos quadrinhos”, orientou Afonso.
O FIQ é promovido pela Prefeitura de Belo Horizonte, através da Secretaria Municipal de Cultura. Em 2009, levou para casa o Troféu HQMIX, como o melhor evento do ano na área de quadrinhos e humor gráfico. Tradicionalmente recheado de debates, exposições, conferências e oficias, ainda não definiu a programação completa para a edição 2011, mas vários quadrinistas já confirmaram sua participação, como: Cyril Pedrosa (França), Carlos Trillo (Argentina), Fábio Moon, Gabriel Bá, Ivan Reis, Laerte, Eddy Barrows (Brasil), dentre outros. Mais informações podem ser acessadas no site www.fiqbh.com.br.

Um comentário:

  1. Vamos lá:
    -Vírgula: Mesmo assim, a quantidade;
    -Pontuação: a edição definitiva de Sandman; e outros;
    -Uso do verbo: mas como me mudei há pouco tempo (-1);
    -Concordância: Foi-se o tempo em que histórias em quadrinhos eram coisa de criança (-1);
    -Manual: mestre;
    -Vírgula: Segundo o coordenador do setor de quadrinhos da Livraria Leitura Savassi, Gustavo Siuves;
    -Grafia: oficinas;
    -Escolha: ou dois pontos, ou como.

    Nota: 23/25.

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