sexta-feira, 29 de abril de 2011

Direto dos palcos para as telas do computador

Agora, não há desculpas. Se você não pode ir ao teatro, o teatro vai até você
 
Priscila Mendes - JRN 6
Presente em vários campos da arte, a tecnologia vem trazendo inovação e criando uma nova linguagem na música, no cinema, na escrita. O que muitas pessoas ainda não imaginam é que a era digital esteja marcando presença, também, no teatro, uma das últimas áreas da cultura que permanecia imune.
Híbrido do cinema, TV e tecnologias interativas, uma nova vertente das encenações surge, há pouco mais de um ano, como uma proposta, no mínimo, instigante, que busca aproximar uma das mais antigas formas de arte à internet: o teatro online. Se antes, para assistir aos espetáculos, era preciso sair de casa, hoje, é possível ver as apresentações em qualquer lugar, desde que se tenha um computador e acesso à internet.  
Esse é o desafio do Cennarium, um portal especializado e pioneiro na transmissão de espetáculos e peças teatrais via web. De acordo com seus idealizadores, o projeto teve um investimento de, aproximadamente, 10 milhões de reais, custeados pela empresa de mídias digitais Nortik, com objetivo de promover uma popularização do teatro e de alcançar um maior público. A ideia surgiu através da realização de pesquisas de campo, as quais apontavam que 95% da população brasileira não tinha acesso ao teatro.
 
Cena de "O animal na sala", de Ziza Brizola
Elenco do Musical Zorro: personificação das raízes espanholas


Marcha para Zenturo: gelo no palco compõe o cenário futurista


O teatro online por diferentes ângulos

O presidente do Sindicato dos Produtores de Artes Cênicas de Minas Gerais (Sinparc – MG), Rômulo Duque, se mostra favorável à inserção do teatro no mundo virtual, mas faz algumas ressalvas. “A internet veio para abraçar todas as possibilidades. Assistir a uma peça de teatro pela internet, pela televisão ou, mesmo, num cinema, não aproxima nem um pouco do ato de assistir em um teatro. O teatro é emoção da presença da plateia e um diálogo direto com o ator. Mas se alguém quer ver a obra, simplesmente é um caminho. E as páginas deste formato ampliam a informação com entrevista aos atores, mostrando os bastidores. Coisas que interessam ao público”, compara Duque.
Quando questionado sobre a possibilidade de nas bilheterias dos teatros convencionais haver uma demanda menor de público devido à comodidade oferecida pela internet, Duque se mostra cético em relação ao assunto. “A minha opinião sobre isso é a mesma quanto à televisão, vídeo 3D em casa etc. Nada vai substituir o desejo da pessoa de sair de casa. Nem que seja uma vez por ano. O ato de se isolar em casa não é parte do ser humano”, destaca.
Mesmo com pontos de vistas favoráveis ao teatro virtual, há quem considere a ideia não muito bem vinda. Um exemplo disso é o ator, escritor e diretor teatral Kinkas Costa, produtor de variadas peças, como O Espiritólogo, De tarado e louco, todo mundo tem um pouco e Xexel – a baleia de dez corações. De acordo com ele, é muito importante o contato físico entre o público e o ator. “O teatro online tira muito a verdadeira essência dessa arte que é produzida em cima dos palcos. Colocar somente “flashes” da obra é bastante positivo. Ajuda na divulgação. Mas, disponibilizar a peça na íntegra quebra a magia existente no teatro, além de contribuir para um maior comodismo e vício das pessoas frente ao computador”, esclarece.
A estudante de Artes Cênicas Raquel Menezes dos Santos, de 24 anos, também compartilha da mesma opinião de Costa. Segundo ela, a presença do público é muito importante. “A expressão no rosto das pessoas é o termômetro para o ator. Quando estamos encenando no palco, ao mesmo tempo, estamos atentos aos olhares, às feições das pessoas que nos assistem. Na maioria das vezes, se o público está satisfeito ou não com a peça, é possível notar somente pela sua reação ao longo da apresentação. Já pela internet, essa possibilidade é muito restrita. Talvez essa satisfação seja manifestada por meio de uma enquete no site, por exemplo, mas, mesmo assim, muito superficialmente”, conclui Santos.

Kinkas Costa: a essência do teatro é a interação entre ator e público

Teatro: nos palcos da História há quase 3.000 anos
 
O teatro se originou nas primeiras sociedades primitivas que acreditavam que essa forma de expressão trazia poderes sobrenaturais e controlava os fatores necessários à sobrevivência, tais como: fertilidade da terra e sucesso nas batalhas.
Durante um bom tempo, esse foi o papel do teatro: transcender o aspecto físico do ser humano. No entanto, com o passar do tempo, essa forma de expressão artística deixou suas características ritualísticas, dando lugar às ações educativas.
De acordo com o professor de Artes Cênicas do Uni-BH, Juarez Guimarães, “o teatro tinha uma função social relevante, de moralizar, de manter a ordem social, e até pedagógico, no sentido de ensinar ao público quais as regras da sociedade e suas punições.”
O teatro, tal como é conhecido atualmente, surgiu na Grécia Antiga, por volta do século VII a.C. Era apresentado em arenas dotadas de excelente acústica e abordava temas profundos, tratados na forma de tragédias ou comédias. “O teatro grego origina-se em sua mitologia. Portanto, carrega um compromisso com a representação dos deuses e heróis, com o intuito de mostrar aos espectadores as conseqüências graves de quem desobedece às leis divinas ou sociais”, afirma Juarez.
As primeiras peças de teatro grego eram apresentadas nas festas religiosas, em homenagem ao deus Dionísio, que era conhecido como o deus do vinho, da loucura e dos prazeres. O teatro era ao ar livre e os atores usavam máscaras. Somente os homens tinham permissão para participar das representações, nas quais eram discutidos os problemas que atormentavam os seres humanos, como o destino, as paixões e a justiça e, também, satirizados comportamentos, costumes, e a própria sociedade.
No Brasil, a implantação do teatro foi realizada pelos jesuítas, que o fizeram com o intuito de catequizar os índios para o catolicismo e coibir os hábitos “incorretos” dos colonizadores portugueses. O padre José de Anchieta (1534-1597) foi um dos principais articuladores desse movimento, de cunho mais religioso do que artístico, se inspirando, principalmente, nas obras do dramaturgo medieval Gil Vicente.
Atualmente, com o surgimento de novas tecnologias, o teatro tem sofrido grandes mudanças. “Com as novas mídias, internet e redes sociais, o teatro deve refletir sobre qual o lugar ocupa numa sociedade hiperinformada, com um aumento significativo de relacionamentos virtuais”, conclui Juarez.

Entenda um pouco mais sobre essa nova manifestação cultural. O jornal Impressão fez uma entrevista com o diretor de Operações e Novos Negócios do portal Cennarium, Antônio Carlos Gimenes.

Impressão - Ao transportar os espetáculos dos palcos físicos para um computador, você considera que há uma descaracterização do teatro, em termos de emoção, contato físico com o público?
GimenesCertamente, trata-se de uma outra experiência, diferente da experimentação ao vivo. Podemos fazer uma analogia com Futebol ao vivo, e na TV. Quando estamos no estádio, temos o calor da torcida, a comemoração coletiva. Mas quando assistimos pela TV, podemos ver os lances de perto, por vários ângulos, alta definição e detalhes que são inviáveis ao vivo. Podemos, ainda, considerar experiências complementares, mas nunca que uma substitua a outra.

Impressão - A partir desse formato, você concorda que novos hábitos culturais são desenvolvidos na sociedade? Será que podemos considerar que está surgindo uma segmentação no teatro?
Gimenes - Uma das bases principais do projeto Cennarium é a inclusão sociocultural e levar o teatro para pessoas que não têm acesso tão fácil como as que estão nos grandes centros. Ainda é muito cedo para falarmos com assertividade de uma nova segmentação, mas podemos entender que novos hábitos culturais estão timidamente se manifestando. Existem pessoas que procuram por uma peça no Cennarium e que já as assistiram ao vivo. A ideia é ter uma releitura da experiência ao vivo por outros ângulos e com detalhes que não foram vistos ao vivo. Por outro lado, existem também aquelas que ficam motivadas a assistir à peça ao vivo ou até começar a frequentar o teatro depois da experiência on line. O importante é atuar como agente facilitador no acesso à cultura.

Impressão -  A convergência dos espetáculos para a internet pode ser considerada um gênero cinematográfico e uma maneira de fomentar o teatro brasileiro?
Gimenes - A convergência dos espetáculos para a internet ainda vai ser uma realidade. Nos dias de hoje, em território nacional, ainda existe resistência de algumas companhias de teatro. Considerar um gênero cinematográfico ainda é muito precoce.  As peças que o Cennarium exibe são captadas num dia normal de apresentação. Como no cinema e na novela, o público está presente, e isso torna todo o processo mais real. Sem dúvida, trata-se de uma maneira de fomentar o teatro no Brasil.

Impressão -   O uso da internet para exibição dos espetáculos, principalmente os internacionais, é uma forma de democratizar e levar a arte a todos os tipos de público?
Gimenes - Esta é a ideia, mas existe ainda um caminho a ser percorrido para que possamos atingir excelência e solidez nas negociações internacionais.

Impressão -  Esse tipo de apresentação das peças teatrais pode influenciar, negativamente, nas bilheterias dos teatros físicos?
Gimenes - Apesar de existir uma percepção de que colocar o teatro na internet possa afetar diretamente as bilheterias, tratamos este questionamento com muita tranquilidade. A peça de teatro, normalmente, é disponibilizada no Cennarium depois que já tenha saído de cartaz. A não ser em casos que a companhia de teatro solicite que a peça captada entre online, simultaneamente, com as apresentações nos teatros. O objetivo do Cennarium é aumentar o alcance e o tempo de exibição das peças.  Nunca prejudicar os profissionais do teatro. Eles são a principal matéria-prima de todo o projeto.






           
Conheça mais sobre a Cennarium



Como funciona?
O público compra créditos e paga até 50% do valor da peça para assisti-la em casa, em alta definição. O preço dos ingressos é definido pelas próprias companhias de teatro. A captação é feita de graça e a empresa divide os lucros da ‘bilheteria’ com as companhias.
Como assistir às peças?
Para assistir às peças, basta acessar o endereço eletrônico www.cennarium.com, cadastrar-se, e adquirir as peças por créditos.
Como se cadastrar no site?
É necessário fornecer apenas alguns dados para realizar o cadastro, tais como: nome, email e você criará uma senha.
Como comprar os créditos?
No topo de todas as páginas do Cennarium.com você encontrará o link Compre Créditos. Acesse-o e siga os passos de compra.
Quanto vale um crédito?
Cada crédito comprado tem o valor de R$ 1,00.
Quais as formas de pagamento?
Você poderá pagar suas compras com cartões de crédito, transferência bancária, via Pay Pal ou boleto bancário
Quanto custa uma peça?
As peças custam a partir de R$ 10,00. Ao selecionar alguma peça de interesse, o valor será mostrado junto com outras informações como: atores, sinopse, trailer e etc.
Transmissão
Ao comprar uma peça, o espectador tem 24 horas para assistir. É possível escolher três velocidades de transmissão. A mais baixa é compatível até com internet discada. 
Exemplos de peças disponíveis:
Escola de Moliéres; Rockantygona;  Oui...Oui...a França é aqui;  Tango, Bolero e Cha Cha Cha; Comédia Russa; O animal na sala; Marcha para Zenturo; Rebu; O banquete; Taniko, Navalha na carne, entre outras.

Um comentário:

  1. Vamos lá:

    -Redundância: ou como, ou dois pontos;
    -Concordância de gênero: função pedagógica;
    -Trema: consequências;
    -Adequação: O Pancadaria Jornalística fez uma entrevista com o diretor de Operações e Novos Negócios do portal Cennarium;
    -Ortografia: online.

    Nota: 25/25.

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