segunda-feira, 9 de maio de 2011

SAINDO DA CAVERNA CULTURAL

Júlia Gracielle jrn6

“...Num primeiro momento, ficaria completamente cego, pois a fogueira na verdade é a luz do sol, e ele ficaria inteiramente ofuscado por ela. Depois, acostumando-se com a claridade, veria os homens que transportam as estatuetas e, prosseguindo no caminho, enxergaria as próprias coisas, descobrindo que, durante toda sua vida, não vira senão sombras de imagens (as sombras das estatuetas projetadas no fundo da caverna) e que somente agora está contemplando a própria realidade.
Libertado e conhecedor do mundo, o prisioneiro regressaria à caverna, ficaria desnorteado pela escuridão, contaria aos outros o que viu e tentaria libertá-los.”

O texto acima foi retirado do clássico “Mito da Caverna” perfeitamente narrado por um dos maiores filósofos da história, Platão. Quem ainda não teve a oportunidade de saborear esta alegoria, faça-o. Em síntese o que pretendo mostra é com que alguém possa sair da própia caverna e que conheça algo novo, que pudesse tirá-lo de uma verdadeira hegemonia cultural. Para tanto lançamos um desafio.


Viaduto Santa Tereza




O desafio
J.I: Você conhece a cultura Hip-Hop?
M.R.S: A fundo não.
J.I: Gostaria de participar de um desafio e conhecer?
M.R.S: Sim! (Receioso)
Perfil do Desafiado
Nome: Moisés Rodrigues da Silva
Idade: 24 anos
Profissão: Coordenador de controle de qualidade
Cidade: Santa Luzia
Atividades: Estudante
Estilo musical: Pop rock nacional
Literatura: “Nem gosto de ler! Só revistas em quadrinho.”
Lazer: Viajar e futebol

A batalha

Sexta-feira, dia 15 de abril de 2011. São 21h45 em Belo Horizonte, mais especificamente no centro da cidade, onde se reúnem aproximadamente 400 jovens, sob o histórico viaduto Santa Tereza. O local que fica próximo à Praça da Estação, à essa hora da noite recebe em suas vias largas milhares de pessoas, muitas estão indo para casa depois um dia de trabalho, outras estão chegando para aproveitar a noite em boates, barzinho, e tem aqueles que ficam para curti mais um Duelo de Mc’s. A temática de hoje é: O HIP-HOP E A CIDADE. Para que o duelo aconteça é necessário que haja pelo menos 10 inscritos. Cada um paga o valor simbólico no valor de R$2,00, e o vencedor leva o dinheiro arrecadado. Desta vez foram 16 desafiantes que de dois em dois subiam ao palco para levantar para o público, rimas inteligentes e surpreendentes. Mas naquela noite dois mestres de cerimônias foram implacáveis em suas rimas e fizeram toda a diferença. Ficaram para a final Destro e Inti que precisavam de 5 rounds, a decisão do público e dos juízes foram a mesma que era o empate.


Viaduto Santa Tereza




O projeto

O evento acontece todas as sextas-feiras, sendo um dos mais tradicionais em BH, que reúne jovens adeptos da cultura hip-hop. De acordo com o organizador Junior Silva – Juninho como prefere ser chamado: o objetivo é difundir a cultura através das batalhas que os próprios mc’s realizam improvisoriamente. O evento tem como objetivo fortalecer a cultura em Belo Horizonte, proporcionando aos jovens uma opção que não seja a criminalidade. Juninho diz: “Nós fazemos questão de ressaltar que não é necessário a violência para sermos ouvidos. Muito pelo contrário, quando usamos a força física, ela se volta contra nós e ai só saímos perdendo. A música, a dança e o grafite são ferramentas que o hip-hop nos dá para que possamos expressar nossas opiniões de maneira inteligente”. Além dos duelos, cada semana um DJ é convidado para tocar e outros artistas da vertente do hip-hop têm a oportunidade de mostra os próprios trabalhos durante os intervalos.

A iniciativa de organizar o movimento foi de um grupo de amigos, que surgiu depois que Belo Horizonte sediou uma etapa da Liga dos MC's. No dia 24 de agosto de 2007, cerca de 40 pessoas se reuniram na Praça da Estação para fazer uma “disputa” de rimas. Com o passar do tempo os encontros que inicialmente eram casuais e entre amigos, começou a atrair outras pessoas que também têm o mesmo gosto cultural. Assim sendo formado o grupo Família de Rua e o encontro tomou as proporções vistas até hoje.


Viaduto Santa Tereza





Um pouco de história

O inicio da cultura hip-hop ocorreu na cidade de Nova Iorque-EUA, no bairro chamado Bronx. No ano de 1960, Bronx mostrava um cenário de violencia, droga e preconceito. Os primeiros adeptos do movimento eram negros e pobres que viviam nos chamados guetos, a idéia da cultura recém nascida, era fazer algo para que chegasse até aquelas pessoas, ou que tivesse opção de lazer. Mas que não sabiam que com a própria voze pudesse chegar aos ouvidos dos governos locais, pois estes gritavam por paz, justiça e igualdade racial.



O ícone do hip-hop na época de 1960 chamava-se Kool Herc, um DJ que “inventou” o chamado Toast - modo de cantar de maneira fraseada e com rimas bem elaboradas, trazendo na mensagem idéias polêmicas como sexo, droga, política ou até mesmo assuntos do dia-a-dia. A cultura alicerçou-se em 4 elementos, que são utilizados até hoje: o MC, que é a pessoa que cria e canta a rima; o DJ que faz a instrumentação das letras; a dança do breakdance e por fim o grafite.



E nos guetos brasileiros

No Brasil, a cultura Hip-Hop chegou no início da década de 80. A princípio não houve nenhum boom musical. Pelo contrário os adeptos começaram a caminhar com passos bem pequenos. No Brasil, o hip-hop conquistou primeiro, através da dança de rua. Um dos marcos na história da cultura no Brasil foi em 1983, a Globo colocou na abertura da novela das 20h, “Partido Alto”, dançarinos de break.

O resultado do desafio

Mais uma sexta-feira é coroada com O Duelo de MC’s. Uma das mais marcantes manifestações culturais em Belo Horizonte. Apesar de pouco conhecida continua resistindo às dificuldades, como a falta de apoio governamental e por falta de apoio da própria sociedade civil. “Muitas pessoas preferem julgar, ao invés de vir e conhecer o movimento que faz tão bem pra tantos jovens, ou que poderiam estar envolvidos com a criminalidade”, desabafa Delfo, dançarino de break que mora na favela do São Tomáz e participa de todos os encontros da Família de Rua tanto no Viaduto Santa Tereza quanto nas ações realizadas nas comunidades. Diferente destes que Delfo citou, Moisés que aceitou o desafio diz: “Pude perceber que o hip-hop fala através das roupas das pessoas que seguem o movimento, através da dança, da arte feita pelos grafiteiros. Vocês viram que desenhos bacanas eles fizeram lá no viaduto? Até ontem, pra mim isso não passava de pichação. As letras que eles cantam falam até mesmo da minha vida, do meu bairro que deveriam ser contemplado com ações sociais. No final, o resultado do duelo foi: CULTURA 1 X 0 PRECONCEITO. Tire suas conclusões e vejam mais uma vez, que Platão estava certo. Vale a pena sair da caverna?

3 comentários:

  1. Vamos lá:

    SAINDO DA CAVERNA CULTURAL

    “Num primeiro momento, ficaria completamente cego, pois a fogueira na verdade é a luz do sol, e ele ficaria inteiramente ofuscado por ela. Depois, acostumando-se com a claridade, veria os homens que transportam as estatuetas e, prosseguindo no caminho, enxergaria as próprias coisas, descobrindo que, durante toda sua vida, não vira senão sombras de imagens (as sombras das estatuetas projetadas no fundo da caverna) e que somente agora está contemplando a própria realidade.

    Libertado e conhecedor do mundo, o prisioneiro regressaria à caverna, ficaria desnorteado pela escuridão, contaria aos outros o que viu e tentaria libertá-los.”

    O texto acima foi retirado do clássico “Mito da Caverna”, perfeitamente narrado por um dos maiores filósofos da história, Platão. Quem ainda não teve a oportunidade de saborear esta alegoria, faça-o. Em síntese, o que pretendo mostrar é com que alguém possa sair da própria caverna e que conheça algo novo, que pudesse tirá-lo de uma verdadeira hegemonia cultural. Para tanto, lançamos um desafio.

    Viaduto Santa Tereza

    O desafio
    J.I: Você conhece a cultura Hip-Hop?
    M.R.S: A fundo, não.
    J.I: Gostaria de participar de um desafio e conhecer?
    M.R.S: Sim! (Receoso)

    Perfil do Desafiado
    Nome: Moisés Rodrigues da Silva
    Idade: 24 anos
    Profissão: Coordenador de controle de qualidade
    Cidade: Santa Luzia
    Atividades: Estudante
    Estilo musical: Pop rock nacional
    Literatura: “Nem gosto de ler! Só revistas em quadrinho.”
    Lazer: Viajar e futebol

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  2. A batalha

    Sexta-feira, dia 15 de abril de 2011. São 21h45 em Belo Horizonte, mais especificamente no centro da cidade, onde se reúnem aproximadamente 400 jovens, sob o histórico viaduto Santa Tereza. O local que fica próximo à Praça da Estação, a essa hora da noite, recebe em suas vias largas milhares de pessoas. Muitas estão indo para casa depois um dia de trabalho, outras estão chegando para aproveitar a noite em boates, barzinho, e tem aqueles que ficam para curtir mais um Duelo de Mc’s. A temática de hoje é: O HIP-HOP E A CIDADE. Para que o duelo aconteça, é necessário que haja pelo menos 10 inscritos. Cada um paga o valor simbólico de R$2,00, e o vencedor leva o dinheiro arrecadado. Desta vez, foram 16 desafiantes que, de dois em dois, subiam ao palco para levar para o público rimas inteligentes e surpreendentes. Mas naquela noite dois mestres de cerimônias foram implacáveis em suas rimas e fizeram toda a diferença. Ficaram para a final Destro e Inti, que precisavam de cinco rounds. A decisão do público e dos juízes foi a mesma: o empate.

    Viaduto Santa Tereza

    O projeto

    O evento acontece todas as sextas-feiras, sendo um dos mais tradicionais em BH. Ele reúne jovens adeptos da cultura hip-hop. De acordo com o organizador Junior Silva – Juninho, como prefere ser chamado – o objetivo é difundir a cultura através das batalhas que os próprios Mc’s realizam improvisadamente. O evento tem como objetivo fortalecer a cultura em Belo Horizonte, proporcionando aos jovens uma opção que não seja a criminalidade. Juninho diz: “Nós fazemos questão de ressaltar que não é necessário violência para sermos ouvidos. Muito pelo contrário: quando usamos a força física, ela se volta contra nós mesmos. Aí, só saímos perdendo. A música, a dança e o grafite são ferramentas que o hip-hop nos dá para que possamos expressar nossas opiniões de maneira inteligente”. Além dos duelos, cada semana um DJ é convidado para tocar e outros artistas da vertente do hip-hop têm a oportunidade de mostrar os próprios trabalhos durante os intervalos.

    A iniciativa de organizar o movimento foi de um grupo de amigos, que surgiu depois que Belo Horizonte sediou uma etapa da Liga dos MC's. No dia 24 de agosto de 2007, cerca de 40 pessoas se reuniram na Praça da Estação para fazer uma “disputa” de rimas. Com o passar do tempo, os encontros, que inicialmente eram casuais e entre amigos, começaram a atrair outras pessoas que também têm o mesmo gosto cultural. Assim, foi formado o grupo “Família de Rua” e o encontro tomou as proporções vistas até hoje.

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  3. Viaduto Santa Tereza

    Um pouco de história

    O inicio da cultura hip-hop ocorreu na cidade de Nova Iorque, no Bronx. No ano de 1960, o bairro mostrava um cenário de violência, droga e preconceito. Os primeiros adeptos do movimento eram negros e pobres que viviam nos chamados guetos. A ideia da cultura recém nascida era fazer algo para que chegasse até aquelas pessoas, ou que houvesse mais opções de lazer. Mas o que tais jovens não sabiam é que, com as próprias vozes, pudessem chegar aos ouvidos dos governos locais. É que tais jovens gritavam por paz, justiça e igualdade racial.

    O ícone do hip-hop em 1960 chamava-se Kool Herc, um DJ que “inventou” o chamado Toast, um modo de cantar de maneira fraseada e com rimas bem elaboradas, trazendo na mensagem ideias polêmicas como sexo, drogas, política ou até mesmo assuntos do dia-a-dia. A cultura alicerçou-se em quatro elementos, que são utilizados até hoje: o MC, que é a pessoa que cria e canta a rima; o DJ, que faz a instrumentação das letras; o breakdance; e, por fim, o grafite.

    E nos guetos brasileiros

    A cultura hip-hop chegou no Brasil no início dos anos 1980. A princípio, não houve nenhum boom musical. Pelo contrário, os adeptos começaram a caminhar com passos bem pequenos. No Brasil, o hip-hop trouxe primeiro a dança de rua. Um dos marcos na história da cultura no Brasil aconteceu em 1983, quando a Globo colocou dançarinos de break na abertura de sua novela das 20h, “Partido Alto”.

    O resultado do desafio

    Mais uma sexta-feira é coroada com “O Duelo de MC’s”. Uma das mais marcantes manifestações culturais em Belo Horizonte. Apesar de pouco conhecida, continua resistindo às dificuldades, como a falta de apoio governamental e da própria sociedade civil. “Muitas pessoas preferem julgar, ao invés de vir e conhecer o movimento que faz tão bem para tantos jovens que poderiam estar envolvidos com a criminalidade,” desabafa Delfo, dançarino de break que mora na favela do São Tomás e participa de todos os encontros da Família de Rua tanto no Viaduto Santa Tereza quanto nas ações realizadas nas comunidades. Diferente destes que Delfo citou, Moisés aceitou o desafio diz: “Pude perceber que o hip-hop fala através das roupas das pessoas que seguem o movimento, através da dança, da arte feita pelos grafiteiros. Vocês viram que desenhos bacanas eles fizeram lá no viaduto? Até ontem, pra mim, isso não passava de pichação. As letras que eles cantam falam até mesmo da minha vida, do meu bairro, que deveria ser contemplado com ações sociais. No final, o resultado do duelo foi CULTURA 1 X 0 PRECONCEITO. Tire suas conclusões e veja mais uma vez que Platão estava certo. Vale a pena sair da caverna?

    Nota: 23/25.

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